quinta-feira, 29 de julho de 2004

SMS 64. Presente envenenado

29 Julho 2004

No momento em que se atira aos quatro ventos que Lisboa suplantou o turismo do Algarve, no momento em que os do Douro, pelas suas contas, prevêem que em 2010 também área suplante o mesmo turismo do Algarve e no momento em que os do Alqueva sonham que a área da barragem igualmente vá suplantar, em algum momento, o mesmo turismo do Algarve que assim é transformado numa desgraçada bitola, pois é neste momento que se decide colocar o gabinete do Secretário de Estado do Turismo em Faro! Para quê? Para gerir as certezas do turismo de Lisboa, os cálculos do Douro e os tão justos quanto espanhóis sonhos do Alqueva, como espanhóis são já os negócios de Vilamoura * ? Esse gabinete, colocado em Faro, vai aumentar artificialmente a conflitualidade inevitável entre as regiões – se alguma medida o secretário de Estado tomar a favor do Algarve, é porque está em Faro e se não decidir nada ou fazer o mesmo que até aqui tem sido feito em Lisboa, o Algarve não pode protestar porque até foi beneficiado com tão ilustre turista governamental. É um presente envenenado e Santana Lopes apenas fará bem se repensar. Está a tempo.

Carlos Albino
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* A autarquia de Loulé decidiria hoje de forma diferente se soubesse o que hoje sabe.

quarta-feira, 21 de julho de 2004

SMS 63. Areia para os olhos

21 Julho 2004
 
O anúncio de que a sede da Secretaria de Estado do Turismo, agora já Ministério do Turismo (em função da pessoa do titular e não da política que se impõe) será eventualmente «deslocada» para Faro não é mais do que atirar areia para os olhos e, nisto, José Apolinário tem razão ao sublinhar que tal medida é uma «forma sem conteúdo».

O que o Algarve precisa – não antes que seja tarde mas sim antes que seja mais tarde – é de uma Região Administrativa que obviamente tenha na sua orgânica uma Secretaria Regional de Turismo. O Governo Central não pode assemelhar-se a um Osíris esquartejado ao longo do Nilo, deixando a Regionalização numa eterna viuvez. Uma Secretaria de Estado do Turismo em Faro não fará mais pelo Algarve do que em Lisboa. Até fará menos, politicamente falando, muito embora se imagine como um tal secretário de Estado ou ministro andará de hotel em hotel, de golfe em golfe, de cocktail em cocktail, de pompa em pompa e como nas horas vagas por entre intensas viagens para o Porto e para Lisboa em nome do interesse nacional, tomará café com José Vitorino à beira da Doca como generosa concessão ao provincianismo. A promoção externa do Turismo Algarvio, em última análise ou no pleno sentido dos interesses do Estado não está nas mãos do ICEP? E onde está o ICEP? A captação do investimento estrangeiro não está nas mãos da Agência Portuguesa para o Investimento, a API? E onde está a API? Por aí fora.

«Deslocar» não é nem de perto nem de longe o mesmo que «desconcentrar» e muito menor «descentralizar» e jamais será «regionalizar». É atirar areia para os olhos. Ora deixem ficar a areia onde está porque a areia faz falta nas praias antes que o mar avance e coma inesperadamente a ganância dos homens.

Carlos Albino

quinta-feira, 15 de julho de 2004

SMS 62. Território ocupado...

15 Julho 2004

E aí esteve reunido o Fórum de Embaixadores da Agência Portuguesa para o Investimento. Em matéria de turismo, a promoção do Vale do Douro e do Alentejo (Sines e Alqueva) dominou as preocupações dos cérebros que estão na primeira linha da frente da diplomacia económica portuguesa. E justifica-se que assim seja: os responsáveis do Douro garantiram em alto e bom som, não há muito tempo, que suplantarão o Algarve e os alentejanos ou alguns por eles sonham com o mesmo objectivo.

Ao mesmo tempo, aqui e ali, começou a entrar na moda altos responsáveis e até m esmo decisores repetirem que «as praias já deram tudo o que tinham a dar», que «o Algarve é o caos», que «não se pode permitir em Portugal a repetição dos erros do Algarve»… por aí fora. E possivelmente isto também se justifica, porquanto alguns ou mesmo dos principais investidores do turismo algarvio comportam-se no Algarve como se estivessem à frente de colonatos na faixa de Gaza – o que lhes interessa é o colonato e mais nada, as ligações e o diálogo com os Municípios visam apenas a ampliação do colonato na mira da próxima transacção financeira e, no que diz respeito às populações, quanto mais longe estas estiverem melhor.

É este um dos preços do Algarve não ser Região Administrativa e não é difícil aceitar que os colonatos a inviabilizaram face à completa insensibilidade do Estado. Porque carga de água o Algarve haveria de ser considerado nos fóruns da diplomacia económica portuguesa?

Carlos Albino

quinta-feira, 8 de julho de 2004

SMS 61. A promoção externa

8 Julho 2004
 
Albufeira afirma que é responsável por nem quantos por cento mas uma enormidade das camas do Algarve como se isto do turismo fosse apenas camas e só camas. E então sentiu-se na obrigação de se promover a si própria e por si própria no exterior, abrindo caminho a que Loulé faça supostamente o mesmo isoladamente, o mesmo acontecendo com Faro, Silves, Olhão, Tavira e por aí adiante, cada um orgulhosamente só a fazer pela sua vida, com mais ou menos camas… O que Albufeira fez não é apenas a constatação do fracasso da RTA e a desconfiança no ICEP em matéria de promoção externa do turismo algarvio – Albufeira acaba de fazer isto mesmo: fez-lhe a cama. Falaremos daqui a dois anos.

Carlos Albino

quinta-feira, 1 de julho de 2004

SMS 60. Sagres

1 julho 2004

Em três páginas inteiras do Diário de Notícias, vai para uns cinco anos, alertei para a importância da classificação de Sagres como Património da Humanidade e de forma muito particular chamei a atenção para o valor inestimável do Relógio Solar que o astrónomo José António Madeira, na década de 60, estudou até ao mínimo pormenor, no terreno, desfazendo com instrumental e cálculos científicos os equívocos de Gago Coutinho em matéria de rosa dos ventos. Creio que Paulo Neves terá lido aquelas páginas, gerou-se um movimento encabeçado pela RTA, houve comissões, peritos, foi dito que se avançou para o processo da candidatura e volta e meia fala-se no assunto, mas o certo é que parece que se perdeu a dinâmica e se algum entusiasmo existe, esse entusiasmo está enleado nas malhas da habitual burocracia. Creio ter chegado a hora de se pegar no assunto e de vez. O Presidente do Algarve Metropolitano, Macário Correia, tem naturalmente uma palavra a dizer porque Sagres, descontadas todas as lendas, patranhas e invencionices, é o símbolo documentado de permutas intercontinentais milenares, é o símbolo da maior gesta de um Povo e uma das poucas referências verdadeiramente sagradas da Terra. Sagres deveria estar a bater já como um coração no peito do Algarve e não está. O que falta para a UNESCO?

Carlos Albino